A história da minha vida - Crysti

Meu nome é Chrysti, e vou contar uma história, se isso puder ajudar alguém a não cometer os mesmos erros que cometi, ficarei muito feliz.

Capítulo 1 - O Monstro

Eu estava completando oito anos quando pedi a minha mãe um vestido novo. Fomos então ao centro da cidade. Entramos em uma loja muito bonita, com papel de parede de flores, arranjos nas mesas, moças muito simpáticas que estavam atendendo os clientes. Tinha uma mesinha com doces para quem quisesse degustar. Minha mãe deixou que eu pegasse algumas balas enquanto a moça, muito atenciosa pegava os vestidos para eu experimentar.
- Crysti, minha querida, venha ver os vestidos, são todos lindos.
- Ah, eu gostei destes.
Peguei quatro vestidos, um amarelo, um com rosas, outro listrado, e um branco com flores azuis e vermelhas. Minha mãe me levou até o provador onde me ajudou com os vestidos. Todos ficaram lindos e a moça dizia para levar todos.
- Dona Alicia, leve todos, sua filha ficou linda…
Acho que era conversa de vendedora, mas realmente eu amei todos eles, e ficaram todos lindos em mim.
Minha mãe então decidiu levar todos eles, minha alegria era única, eu tinha agora quatro vestidos lindos para passear com meus pais.
No dia seguinte foi a minha festa de aniversário, meu pai pediu para fazer um bolo bem bonito de nozes com chocolate, é o bolo que eu mais amo, e minha mãe enfeitou a casa para os convidados.
Chegou a hora da festa!! Quanta alegria. Uma dúvida estava em minha mente. Qual vestido eu iria colocar… pedi para minha tia Aury chamar meu pai, ele sempre teve um bom gosto e iria me ajudar nessa pergunta.
-Charlie, Chrysti está te chamando para ajudá-la na escolha do vestido.
Meu pai chegou e com sorriso nos lábios me disse:
- O vestido branco com flores azuis combina com seus olhos, minha querida.
Meu cabelo era bem loiro, com cachos nas pontas, e meus olhos azuis como os da minha mãe.
Muito bem, coloquei o meu vestido novo, minha tia prendeu meus cabelos com uma flor vermelha, e meus sapatos eram brancos com laço de cetim.
Eu estava linda. Todos diziam que eu estava linda e eu também achava.
Chegou a hora de cortar o bolo, cantamos parabéns e depois das fotos eu estava liberada para brincar com meus colegas, só não podia sujar o meu vestido novo.
Começamos a brincadeira, pique e esconde, já estava noite então ficava mais gostoso, pois seria mais difícil de alguém me encontrar. Eu me achava muito esperta em esconderijos. Dias antes ficava procurando lugares aonde ninguém iria me encontrar. Como morava em um sítio, eu tinha muitas opções. Minha mãe sabia que eu gostava muito de me esconder, às vezes até me ajudava a encontrar alguns esconderijos secretos.
Mas esse dia foi diferente, foi onde começou o meu tormento…
Um, dois, três, quatro… contava Dora para vir nos procurar. Mais do que depressa fui para meu lugar atrás da casa do caseiro, que já estava sem ninguém há um ano, pois ele voltou para sua terra natal e meu pai ainda não havia encontrado outro para assumir o seu lugar.
Fiquei lá atrás, bem quietinha, sem fazer nenhum barulho, quando de repente ouvi o nosso vizinho, que sempre brincava comigo, me chamar. Eu disse que não podia porque estava brincando com meus amiguinhos, porém ele insistiu. Disse que tinha algo para me mostrar. Como ele sempre foi muito carinhoso comigo, me dava presentes e doces, e era amigo do meu pai, achei que não tinha nenhum problema.
Ele me levou para dentro da casa do caseiro e eu perguntei:
- Tony, o que você quer aqui dentro? Essa casa está vazia e cheira mal, quero voltar para brincar com meus amigos.
Ele me olhou furioso e simplesmente pegou meu braço com toda força,  tapou minha boca com sua mão enorme, e disse:
- Se falar isso que está acontecendo aqui com alguém, eu mato sua mãe!!
Minha mãe, não meu Deus, minha mãezinha não, eu não posso deixar!!! O que eu faço? Não posso gritar, não tenho a força que ele tem…
O cheiro ruim daquela casa estava dentro de mim, e aquele homem enorme, com barba fedorenta, fez algo que acabou com minha vida…
Depois de alguns minutos ele me disse para voltar e brincar com meus amigos, se eu dissesse algo para alguém, minha mãe corria perigo de morte.
Arrumei meu vestido e meus sapatos brancos com laço de cetim, meu cabelo estava embaraçado, a flor vermelha que minha tia colocou, se perdeu naquela casa fedorenta.
Voltei para a festa, e ele estava lá, com sorriso nos lábios e fazendo sinal para eu ficar quieta. Ele chegou perto da minha mãe e disse olhando para mim:
- Dona Alicia, sua filha está muito linda, a senhora está de parabéns.
Minha mãe, coitada sem saber de nada, agradeceu o monstro e mais uma vez ele me olhou e com o dedo fez sinal para eu me calar.
A festa acabou para os convidados, mas para mim havia acabo no momento que o monstro me levou para dentro da casa fedorenta.
Aquela noite foi de terror, meu corpo doía muito, meus ossos pareciam quebrados, eu estava sangrando. Coloquei então um lenço em mim para minha mãe não perceber, eu estava com muito medo.
Eu tremia muito e meus dentes estavam serrados, era uma mistura de dor com ódio. O que o monstro tinha feito comigo? O que foi aquilo? Porque eu estava toda dolorida? E porque eu sangrava?
Sonhei com ele, o monstro. Pensei que era pesadelo, mas não, era realidade, eu não sabia o que fazer…
No dia seguinte, acordei e tomei meu banho, percebi que meu braço estava roxo, coloquei então uma camiseta com mangas longas, para ninguém perceber, estava um pouco frio, foi minha sorte. Olhei minha cama para ter certeza que não havia marcas de sangue, e graças a Deus não tinha. Como de costume arrumei o lençol e coloquei meu travesseiro junto ao cobertor dentro do baú, arrumei meus cinco ursinhos de pelúcia em cima da cama, peguei meu material e fui para a escola.
Eu não conseguia falar, acho que nem me lembrava que tinha que respirar só vinha na minha lembrança aquela cena horrorosa do monstro…

Capítulo 2 - Meu Mundo no Chão

Aquele ano eu reprovei, não conseguia entender nada o que a professora falava, parecia grego.
É claro que recebi um castigo de minha mãe, ela não deixou eu passar o final de ano na casa de meus avós, que também moravam no campo, porém em outra cidade, enfim, fiquei no sítio, brincando com os patos e galinhas e fazendo bonecas com espigas de milho. Era engraçado, eu fazia tranças no cabelo do milho e dizia que era cabeleireira.
O ano seguinte começou e uma nova turma no colégio. Minha mãe adoeceu, foi descoberto um câncer no seu intestino e por conta disso ficou muito debilitada. Meu pai trabalhava muito e não podia me buscar no colégio. Ele me disse que para minha segurança iria pedir a um amigo para me buscar todos os dias na porta da escola. Meu coração estremeceu. Quem seria esse amigo? Meu Deus o pesadelo voltou!!! Meu pai pediu para o monstro ir me buscar todos os dias. O que eu faço? Não posso contar para ele porque está trabalhando muito e minha mãe, está doente, não posso trazer mais preocupações para eles!!  Meu Deus me ajuda, eu não sei o que fazer.
Naquele dia eu não conseguia sair da sala de aula, meu corpo tremia de novo, meus dentes estavam cerrados, tive até náuseas. A professora me chamou e disse:
- Crysti, minha querida,  seu amiguinho veio te buscar, ele está lá no saguão te esperando.
Meu coração estremeceu, eu não quero ir, alguém faça alguma pelo amor de Deus!!!
Mais quem? Ninguém sabe dessa história, eu não posso falar.
- Vamos Crysti, o sinal já bateu faz dez minutos, só tem você nessa sala a outra turma já está chegando.
Eu fiquei enrolando com meu material escolar, disse que havia perdido minha caneta, mas nada disso adiantou eu tive que sair da sala e ir ao encontro do monstro.
Minha vontade era de pular no pescoço dele e bater tanto até sangrar do mesmo modo que ele me fez sangrar, por dentro e por fora.
Ele me olhou, e seus olhos brilhavam como se estivesse vendo algo que desejasse muito, como um premio que tinha ganhado, veio até mim e pegou em minha mão. A professora me entregou para ele.
-Vou cuidar dela dona Clara, vou levar pra casa direitinho. Falou o monstro sorrindo para minha professora.
- Eu não quero ir com você, monstro, não quero!!!
-Cala a boca agora e entra no carro, senão já sabe o que acontece com a sua mãe.
- Ela está doente, não toca em minha mãe!!!!
- Então faz tudo o que eu mandar!!!!!
O olhar dele parecia do demônio, ele suava muito e o cheiro era horrível, continuava com aquela barba grande e suja.  Eu senti o cheiro daquela casa fedorenta de novo.
Ele não me levou para casa, foi para uma mata, não tinha ninguém por perto…
Decidi contar para minha mãe, eu não iria aceitar isso na minha vida. Quando cheguei em casa, minha mãezinha não estava, meu pai a levou para o hospital, ela passou mau. Corri para lá, era perto de casa. Encontrei meu pai falando com o médico:
- Doutor quando cheguei em casa Alicia estava tremendo muito parecia até uma convulsão, a febre estava muito alta e ela gritava de dores.
Como eu iria falar para minha mãe sobre o monstro estando ela nesse estado? Nem poderia falar para meu pai, a cabeça dele entraria em parafuso.
Fiquei calada e fui para o quarto do hospital cuidar da minha mãe. Ela estava magra, os olhos fundos, dava para ver os ossos de seu rosto. Ela pediu para tomar um banho, eu quis ajudar.
A enfermeira a colocou na cadeira de rodas e me deixou banhá-la. Minha mãe não conseguia ficar em pé. O braço dela estava tão fino, seu quadril, suas costas, eu podia contar os ossos. A pele parecia verde, já não tinha mais aqueles cabelos longos e cacheados como os meus, estavam muito ralos. Seus dentes pareciam maiores, seus lábios sumiram. O cheiro da minha mãe havia acabo, agora cheirava câncer. Ela mal conseguia falar.
Peguei um pano com sabonete e passei sobre a pele dela. Era sabonete de alfazema, minha mãe me olhou. Seu olhar continuava de mãe. Ela me perguntou:
- Meu amor, está tudo bem contigo?
Eu queria tanto gritar para ela tudo o que estava acontecendo, mais como faria isso? Ela é quem precisa de mim, eu não posso falar  nada, ela não tem condições de me ajudar agora, eu é quem tenho que ajudá-la. Dentro de mim gritava:
-Socorro mãe, eu preciso da senhora!!!!!!
Não podia ser egoísta a esse ponto e continuei a cuidar dela.>
Era hora do almoço, minha mãe tinha fome, mas o câncer havia tomado todo o seu corpo, estava difícil de alimentar, sua língua estava com feridas, sua garganta completamente em carne viva. Fiz uma sopinha com leite e bolacha e com ajuda de uma colher pequena fui colocando em sua boca. Eu sentia junto com ela as dores, seu gemido cravava dentro de mim como uma foice…
Ai que dor… Dor na alma, dor no coração, não podia fazer nada, minha mãe estava morrendo. Nessas horas eu me esquecia do monstro… A dor da minha mãe era muito maior, imensamente maior…
Ela tomou morfina, as dores aliviaram e fomos para casa. Passaram-se cinco meses, minha mãe voltou sete vezes para o hospital e tudo se repetia dia a dia, até que numa noite eu acordei assustada, tive pesadelos com o monstro, fui até o quarto dos meus pais e ela estava muito suada. Peguei uma toalhinha molhada e enxuguei o seu rosto. Meu pai acordou e me ajudou a levantá-la.
- Eu amo muito vocês.
Disse minha querida mãe. Ela morreu nessa noite nos braços de meu pai. Meu mundo desmoronou…


Capítulo 3 - Pesadelo


Um mês se passou após a morte de minha mãe, meu pai começou a beber. Não suportava mais a dor da falta de sua amada. E eu? Como fico?
Voltei às aulas, não ia muito bem em matemática, não conseguia entender nada das equações que era ensinado. Já estava com quase 11 anos e minha cabeça não funcionava muito bem. Sempre tendo pesadelos com o monstro e a lembrança da minha mãe, agora meu pai virou um viciado, eu nem tenho comida descente para me alimentar, vivo de leite ou macarrão sem molho, é a única coisa que sei fazer. Quando sinto fome, faço um macarrão simples apenas cozido em água e sal, coloco um pouco de azeite depois de pronto e me alimento, ou então um belo copo de leite morno com o que tiver na dispensa para dar uma cor ou sabor. Se não tiver nada, bebo apenas leite morno.
Fui para o colégio, era dia de prova, eu até que estava animada, porque era prova de educação física, tínhamos formado um time de futebol feminino, eu gostava bastante. Fui para o vestiário e para minha surpresa minha primeira regra veio. E agora? O que eu faço? Uma colega me ajudou e assim consegui participar da prova sem maiores problemas.
Agora eu era uma mulher, com corpo de mulher, sofrimento de mulher, mais desejo de menina, queria apenas ser feliz…
***
O ano letivo acabou e desta vez pude ir até a casa de meus avôs passar o fim de ano com eles. Parecia tudo normal, quando recebemos a noticia de que meu pai havia passado mal. Meus avôs me levaram até o hospital para eu ver o meu pai, já era tarde.
O médico me chamou e me disse:
- Minha filha, fizemos de tudo, mais seu pai teve uma parada cardíaca por causa da bebida e veio a óbito.
- Vó o que eu faço agora? Não tenho ninguém.
Fiquei desesperada, sozinha nesse mundo de meu Deus…sem a mãe, sem o pai, meus avós já eram de idade, não saberiam cuidar de mim… ( choro ).
Fiquei então duas semanas na casa deles, eles moravam em um sítio também distante da cidade, então eu não tinha como ir ao colégio. Resolveram  que eu iria morar com minha tia. Ela era sozinha, não tinha marido nem filhos, era irmã da minha mãe. Quando eu era pequena gostava muito dela por causa dos bombons que me trazia, mais ela tinha cheiro de uísque.
Arrumei minhas coisas e fui até a casa dela, fiquei num quarto bem bonito, com um papel de parede rosa, e uma escrivaninha de madeira escura. Tinha um quadro de bailarina na parede, e uma janela que dava para a rua, onde eu podia ver todo mundo passar.
Voltei a freqüentar a escola, sete meses se passaram e descobri que morar com a minha tia não era legal, porque ela bebia tanto quanto meu pai. Ela não cuidava muito de mim, eu quem fazia a comida, lavava a minha roupa e limpava a casa. Eu não sabia cozinhar muito bem, era bem mais fácil fazer um copo de leite ou macarrão sem molho. Às vezes eu fazia bolinho de chuva com suco de limão. Eu gostava de comer o bolinho assistindo televisão, mas quando ela chegava em casa tinha que desligar tudo e ir para o meu quarto, senão ela brigava e ficava falando o tempo todo, coisas que eu não entendia, parecia que falava com o além, ela mesmo falava e respondia como se alguém estivesse com ela. Eu nunca entendi isso.
Todos os dias ela me buscava na escola, mas nesse dia ela não foi, tinha uma entrevista de emprego e não podia faltar. Não sei se iria passar nessa entrevista, na noite anterior havia bebido tanto que seu cheiro estava insuportável…
O sinal tocou e quando saí do prédio escolar, encontrei o monstro na porta me esperando. Com aquele olhar de lobo querendo me devorar, igual aos meus pesadelos. Ele veio até mim, não entendo como sabia que minha tia não viria.
- Vim te buscar, disse o monstro.
-Como sabe que estou sozinha, minha tia está me esperando…
-Todos os dias eu te espero e hoje sei que ela não vem.
-Eu não vou com você, não pode mais fazer nada contra minha mãe e nem contra meu pai.
- Posso matar você se não vier ou se abrir a boca para alguém.
Mais uma vez o monstro me colocou no carro, por ser conhecido de todos, e saberem que ele era amigo do meu pai, ninguém achava estranho, e eu não tinha como gritar. Novamente o desespero tomou conta da minha alma. Me sentia indo para o matadouro, uma menina completamente desesperada e sem saber o que fazer! Tinha vontade de fazer ele sumir de perto de mim, mas não sabia como…
Aquele dia foi um dos piores dias da minha vida. Ele me destruiu por inteiro. O monstro com cheiro de pobre e o cheiro daquela casa fedida estavam de novo em mim. Agora meu ódio por ele era um milhão de vezes maior. Eu só pensava que quando eu crescesse iria matá-lo.
Tentei falar para minha tia, mas ela estava tão bêbada quando chegou em casa que mal sabia o caminho do seu quarto.
Novamente eu estava sozinha, ou quase sozinha…

Capítulo 4 - A 'coisa'


Passaram sete meses e minha regra não vinha. Eu sentia muito enjôo, e muitas dores abdominais. Não queria acreditar, mais a verdade estava ali. Minha barriga cresceu, como eu não me alimentava bem,  pensei que era verme. Verme que nada. Fui ao médico e ele constatou assim que entrei.
- Você está grávida.
-O quê? O quê?
- Você não percebeu que seu corpo mudou?
- Sim percebi, mais achei que estava com verme, não me alimento corretamente.
Eu quis tirar a “coisa”, mas não era possível por causa do tempo que eu já estava.  “ Coisa” era assim que eu chamava o ser que estava dentro de mim.
A “coisa” nasceu de oito meses e ficou no hospital em uma incubadora, eu nem quis ver a “coisa”. Era uma menina. Não tive leite, as enfermeiras amamentavam a “coisa” por outra mãe que estava no hospital.
Ela teve alta e tive que buscar aquela “coisa”. Até os três meses de nascida eu não olhei para o rosto dela, nem a alimentei, quem cuidava da “coisa” era minha tia alcoólatra. Sabe-se lá como. Ela nem me perguntou sobre a gravidez, nem quis saber quem era o pai da “coisa” horrorosa, nenhuma pergunta, nenhum abraço, nenhuma bronca… nada.
Ah se eu tivesse falado com minha mãe no dia em que tudo aconteceu. No dia do meu aniversário… nada disso teria acontecido comigo, eu não estaria perdida e o monstro estaria atrás das grades. Eu tinha que ter tido coragem para falar, para gritar, minha mãe teria ouvido, ela sim teria me socorrido!!! Ela é minha mãe, ela saberia como agir!!! Com toda certeza eu deveria falar para minha mãe….
***
Comecei a sair para baladas e conheci muita gente. Gente bonita, gente feia, gente rica, gente pobre. Eu não trabalhava fora, mais precisava de dinheiro, resolvi então ir para o lado da prostituição. Ficava alguns dias da semana com alguns rapazes e ganhava o suficiente para pagar minhas contas.
O tempo foi passando e eu não consegui sair dessa vida. Cada vez me afundava mais.
Conheci o Walther, um homem aparentemente bom, tranqüilo, porém casado. Esse era o seu problema, era casado, mas para mim isso não importava, eu queria mesmo era acabar com o casamento dele, e pegar todo o seu dinheiro.  Eu tinha o ponto fixo, era lá que todos me achavam. Fiquei saindo com o Walther por um bom tempo, até que ele sumiu, dizem que foi para outra cidade, não sei se é verdade, também não é da minha conta.
Eu já estava com  14 anos, era muito experiente na noite, e me achava dona do meu nariz. O que eu ganhava durante a noite mal dava para sustentar o meu vício na bebida, quanto mais pagar as contas, comecei a me enrolar nas dívidas, tive então que aumentar a clientela.
Trabalhava durante a noite toda, acabava um programa começava outro. Eu era muito bonita, cabelos cacheados e louros, olhos azuis como o céu, pele branca como a neve, eu estava muito magra acho que dava até para contar meus ossos, mas isso não impedia de ter muitos clientes. Eu achava até engraçado como conseguia tantos programas, parecia que tinha ajuda do além. Eu me transformava quando chegava a noite, não precisei mudar o meu nome, era conhecida como Chrysti mesmo. Chrysti, a dama da noite.
Eu sempre me protegi muito, morria de medo de engravidar novamente de outra “coisa”, só que desta vez eu não iria perder tempo, pois agora era madura e experiente, dona do meu próprio dinheiro e muito conhecida, era só fazer o aborto e tudo bem.
Mesmo me prevenindo em um ano fiz dois abortos. Eu tinha um cliente que conhecia o amigo de um doutor e que sempre ajudava as mulheres da noite a se livrar das “coisas”.
E o tempo foi passando, passando, e eu me achando cada dia mais poderosa, nada nem ninguém mandava em minha vida. O desejo de vingança contra o monstro ainda continua…

Capítulo 5 - Dama da Noite

Resolvi mudar o meu estilo, resolvi radicalizar!
Mudei o meu visual, como eu era conhecida como a dama da noite, deveria ser mais poderosa do que nunca.
Uma roupa preta. Essa era minha marca registrada, roupa preta, muito justa, quase não entrava nela, maquiagem muito escura. Meus cabelos já não eram mais loiros e cacheados, eu pintava de preto e estava muito liso e mais curto. Os sapatos eram de salto muito alto e também preto, a meia calça era rasgada e as bijuterias muito grandes e pesadas.
*•*•*•*•*•*
Quando eu chegava em casa por volta das sete horas da manhã, a “coisa” estava dormindo, eu passava longe do seu quarto, não queria nem ouvir a sua voz.
Um dia, cheguei em casa e não tinha ninguém. Resolvi deitar e dormir porque estava muito cansada, tinha feito cerca de cinco programas naquela madrugada e meu corpo estava quebrado, além da bebida.
Quando acordei já era noite novamente, tinha que me preparar para o trabalho. Levantei, tomei meu banho, bebi um copo de uísque e coloquei minha roupa preta.
Olhei para a porta do banheiro e lá estava a “coisa” me observando. Fingi que não a conhecia. Por onde eu andava a coisa ficava me olhando como se quisesse se aproximar de mim. Eu pensava "se isso chegar perto eu mato ela."
- Eu fui para o hospital, fiquei com dor hoje.
Fingi que não a  ouvi falar.
- Eu fui para o hospital, fiquei com dor hoje. Continuou insistindo a “coisa” de três anos.
Peguei minha bolsa e sem olhar para traz fui para minhas noitadas. Estava sentindo ódio daquela situação.
Naquela noite fui apresentada ao crack, onde foi o meu companheiro por muito tempo.
Crack é uma droga, geralmente fumada, feita a partir da mistura de pasta de cocaína com bicarbonato de sódio. É uma forma impura de cocaína e não um sub-produto.
Comecei a fumar o crack numa lata de alumínio. A fumaça produzida pela queima da pedra de crack que chegava  ao meu  sistema nervoso central em dez segundos, seu efeito durava de 3 a 10 minutos, com efeito de euforia mais forte do que o da cocaína, depois eu ficava com muita depressão, onde tinha que fumar novamente para tirar aquela sensação ruim que a depressão causava. Fiquei dependente…
Todo dinheiro que eu ganhava era para compra o crack. Eu sempre dizia para todos:
-Ninguém tem nada a ver com minha vida, quando eu quiser, eu paro.
Esse era o meu pensamento, eu acreditava que tinha domínio sobre mim, que era a dona da verdade.
Passei a ter alucinações e paranóia. Sempre que usava o crack via pessoas me perseguindo. Elas se escondiam atrás das arvores, dos postes, apareciam do nada e corriam atrás de mim. Eu via coisas estranhas atrás de mim…
Um dia acordei na praia pela manhã, estava toda suja e sem roupas. Meu cabelo estava muito embaraçado, minhas unhas com sangue, meu corpo dolorido.
Minhas roupas estavam  jogadas ao meu lado, meus braços com grandes arranhões, provavelmente eu mesma os tinha feito, estava com uma unha quebrada. A depressão era profunda. Lembrava-me de minha mãe… Coloquei as roupas sujas e descalça fui para casa.
Andei quilômetros para chegar em casa, não sabia como tinha ido parar tão longe, afinal o ponto que eu ficava era perto e não tão longe.

Capítulo 6 - Enganada


Tinha uma banheira no banheiro do meu quarto, eu enchi de água e sabão e entrei dentro dela, adormeci.
Depois de algumas horas acordei com muita angústia, uma sensação de vazio imensa, algo parecido com depressão, dava a impressão que o meu coração havia sido arrancado. Sinto saudades de minha mãe.
Não sei ao certo o que  aconteceu. Quando olhei do meu lado, a “coisa” estava lá, me olhando e segurando um copo de leite quente.
- Eu fiquei aqui esperando a senhora, fiz leitinho para te agradar.
Fiquei sem fala, apenas tomei o leite…
No dia seguinte perguntei para algumas amigas o que tinha acontecido e elas relataram que eu fiquei muito doida. Peguei carona com um homem muito conhecido da rapaziada, que também era usuário, só que ele usava cocaína injetada, onde o efeito é tão potente quanto o crack.
Disseram que eu saí com ele em seu carro e não voltei mais. Realmente não sei o que aconteceu não me lembro de nada.
Quando uso o crack sinto uma euforia, alegria, fico confiante, minha energia aumenta e eu desejo cada vez mais o crack. Daria tudo o que tenho por uma pedra do meu amor, meu grande amor…. o crack.
Algumas amigas dizem que o hit da droga é o máximo. Eu amo o crack, amo a sua sensação, mas ao mesmo tempo odeio, não sei explicar.
Cheguei ao extremo de ficar três dias sem dormir, enquanto  sob o efeito do crack, fico totalmente agitada e a paranóia é muito grande. Tive muitas alucinações e o monstro estava dentro delas…
Quando o efeito acaba, a necessidade de usar novamente é maior do que o mundo, maior do que o universo!!! A gente precisa da pedra de novo, será ninguém entende isso?
Numa noite, tinha feito um programa com um homem rico e casado, eu nem me importava se era casado, eu queria o dinheiro dele. Ele me pagou muito bem, daria para sustentar o meu vício por uma semana. Quando eu saí do seu carro, parei na calçada a fim de conseguir outro cliente. Senti como se bichos estavam rastejando sob a minha pele, eu estava sob efeito da droga, mas nunca havia sentido isso. Uma sensação horrível, bichos e vermes no meu corpo e bichos correndo atrás de mim.
Essa noite não terminava nunca, eu andava e corria por todo lado e eles me achavam, me escondi em uma lixeira grande e fiquei parada esperando o dia amanhecer. Eu adormeci e pela manhã com o sol em meu rosto, saí da lixeira e fui para casa. Meu corpo estava coberto de restos de comida, eu tinha um cheiro horroroso. Mas sempre pensei:
-Eu paro quando quiser, tenho domínio sob o crack.
O tempo foi passando e eu não saía dessa vida. Afinal eu não queria parar porque quando quisesse eu pararia, tinha domínio sob a droga e sob a minha vida. Era como eu pensava…
***

Capítulo 7 - Uma semente de esperança


Era aniversário da coisa, estava completando sete anos. Eu nunca dirigi a palavra à “coisa”. Afinal eu a odiava com todas as minhas forças. Minha tia já não falava muito comigo, não tínhamos diálogo, ela sempre estava bêbada, e eu sempre preocupada em como ganhar dinheiro para usar. Foi feito uma festa para a “coisa”, ela me olhava com os olhos da minha mãe, como quando minha querida mãe dizia que me amava, e seus olhos brilhavam, era assim que a “coisa” me olhava.  Eu saí correndo da casa, eu não queria nem saber do que se tratava.
- Anne meu bem, chegaram presentes para você.
- Ah, muito obrigada, vou abri-los na sala junto com minhas amiguinhas. Anne é o nome da aniversariante, uma bela e formosa menina, com cabelos louros e cacheados, olhos claros e uma voz suave. Menina sofrida, por causa da ausência da mãe, mas isso não tirava a sua inocência em amá-la mais do que tudo nesse mundo.
Chegou a hora de cortar o bolo.
- Faça um pedido, Anne.  Disse sua amiga de escola.
- Meu Deus eu quero que minha mãe me ame.
Todos a sua volta seguraram as lágrimas e a menina com a alegria de sua festa cortou o bolo e se divertiu.
Foi um dia de presentes e brincadeiras para um pequeno ser de sete anos. Anne corria pela casa brincando e enfeitando o lugar com seu encanto e beleza.
Que culpa tinha aquela criança? Ela não sabia de nada, apenas que sua mãe a odiava mais do tudo nesse mundo e que nunca havia dirigido a palavra a ela nem tão pouco saído de sua boca o seu nome Anne.
Começou as aulas novamente e Anne foi para o colégio, era ótima aluna em todas as matérias, muito inteligente e atenciosa. Às vezes a professora conversava com a menina, e por isso Anne viu em dona Clara uma pessoa digna de confiança.
Sempre desabafava com dona Clara, dizia da dor que havia em seu peito em ser rejeitada pela mãe.
- Às vezes acho impossível que minha mãe me ame…
- Anne minha querida, sou evangélica há muitos anos e sei que Deus é poderoso para mudar toda e qualquer situação.
- Como Deus poderia mudar a minha mãe? Ela vive no mundo da prostituição e agora viciada em crack, posso ser criança, mas sei que ela vai morrer. Não fala coisa com coisa, tudo que ela tem é sujo, o quarto dela sou eu quem arruma, ela está morrendo, tem alucinações, diz que bichos correm por seu corpo, mas não quer ajuda de ninguém. Ela sempre fala que quando quiser parar ela para, mas sei que isso não é verdade. Ela já está condenada a morte.
Como pode uma menina tão pequena saber de tanta coisa. Saber que sua mãe pode morrer a qualquer momento. Quem a ensinou isso?
- Tem uma passagem na Bíblia que diz assim:
“ O Senhor dos Exércitos jurou, dizendo: Como pensei, assim sucederá, e como determinei, assim se efetuará. ( Isaías 14:24)
- Temos o poder para isso, pensar e acontecer? Mesmo eu sendo criança, Deus pode ouvir a minha oração?
- Sim, Ele ouve a todos que clamam com fé.
Fé, palavra muito poderosa, que penetrou no coração de Anne. A partir desse dia ela passou a viver sua fé. Seu grande desejo, salvar sua mãe, e para isso Anne empenhou-se  dia a dia.
- Dona Clara, se toda noite eu fizer uma oração pela minha mãe, Deus vai me ouvir?
- Sim, se você acreditar…

Capítulo 8 - A outra face da rua

Cada menina tinha o seu ponto, nenhuma podia ultrapassar a linha da outra.Com chuva ou frio, estávamos lá. Umas porque tinham que pagar a faculdade, outras porque tinham filhos para criar, outras para sustentar o vício, eu… nem sabia porque estava lá.Quantas vezes vi meninas que acabavam de fazer o programa, ligar para a mãe para pedir consolo e ouvir a voz de alguém que a amasse realmente. Não era fácil, nem sempre pegávamos homens que fazia o tinha de fazer e ia embora, muitas vezes tínhamos que ouvir besteiras, palavrões, até apanhávamos. Outros eram estranhos, feios, fedidos, sujos, horrorosos, parece que queriam devorar a gente só com o olhar, nessas horas eu me lembrava do monstro. Uma vez uma das meninas apanhou tanto do rapaz que ficou com o olho inchado e não conseguia ver nada. Outra teve o seu braço direito quebrado. Parece que eles jogam toda a raiva e vontade de matar em cima das meninas. Outra ficou grávida e na hora de fazer o aborto morreu na cirurgia, ela teve hemorragia. São tantos os casos que acontecem com mulheres que não são maduras nessa profissão, porque eu me acho bem madura, sou dona de mim e sei o que faço. Na verdade era até bom que elas saíssem do caminho, assim eu teria a clientela delas. Uma delas saía sempre com mulheres, já tinha as pessoas fixas, mas coitadinha foi presa por porte ilegal de armas, teve uma pena de sete anos de condenação. Coitada dela mesmo, porque fiquei com toda parte que lhe cabia. Comecei a sair com mulheres também, eram mais calmas que os homens e pagavam bem. Não era qualquer uma que eu atendia no meu ponto, eram mulheres ricas, cheias de ouro, bem casadas, e eu nem ligava. Eu queria o dinheiro para gastar com meus desejos, o problema é que eu ganhava muito dinheiro, mas vivia endividada, eu nunca entendi isso, trabalhava tanto e não tinha nada. Eu fazia tudo o que me era pedido, eu era tudo e ao mesmo tempo não era nada. Eu que oferecia tudo para eles, e para elas, mas não tinha como receber nada em troca, a não ser o dinheiro, que muitas vezes eu pensava ser um dinheiro sujo, mas ganhei sem roubar, então era meu. Eles falavam coisas que às vezes até eu ficava envergonhada, são momentos que a gente se sente como lixo, como um nada, sem nenhum valor, parece que toda sujeira está no nosso corpo. Eu não acredito que nenhuma mulher faça isso porque quer, mais sim porque não consegue sair dessa vida. Quem não quer ter uma família, onde é amada pelos seus. Quantas vezes temos que tomar calmante para dormir, tamanha a dor na alma. Conheci uma menina que estava grávida de sete meses e fazia programas, já era mãe de três crianças, uma delas foi dada para a vizinha cuidar, ela nem quis ver a menina, do hospital mesmo já deu a criança embora. Algumas lá, já estavam no ponto há cinco anos, e tinha uma clientela boa, mas também estavam na mesma situação que eu, às vezes não tinha dinheiro nem para voltar para casa. A gente procurava se cuidar se prevenir, mais isso não impedia de muitas meninas morrerem com doenças. Morriam uma, duas, três em um mesmo mês. Mas a gente não consegue largar. Muitas mesmo grávidas usam drogas para conseguir fazer os programas, senão o corpo não agüenta, a mente não suporte. Quem em sã consciência consegue sair com muitos homens e mulheres numa mesma noite se não estiver drogada. A família muitas vezes não tem noção que essas meninas se prostituem, e nem elas tem coragem de falar, porque a decepção para os pais e parentes seria a morte para elas, já são desprezadas na rua, não iriam suportar ser desprezadas pela mãe. Quantas vezes passamos por apuros, eles nos pegam no ponto e nos deixam em matas, eles voltam para seus carros e retornam para a cidade e a gente fica largada no meio do nada. Temos que andar e andar até chegar ao ponto novamente, nesse momento a gente se sente como lixo, como um pedaço de carne que não vale nada, que não tem nada, e o desejo de morte é grande, a gente se sente suja e sem esperança de vida. É quando a menina liga para mãe ou para um parente que ela sabe que a ama de verdade. Eu… não ligo para ninguém, não tenho ninguém. Quem pode ajudar? O preconceito é muito grande, ninguém olha pra gente com olhar de misericórdia, o olhar das pessoas é de ódio e de desprezo, quem vai dar um emprego para uma de nós? Quem vai pagar o que ganhamos na rua? Muitas vezes ganhamos rios de dinheiro, ouro, outras vezes ganhamos tapas, xingos, puxões de cabelo, pontapés… Acho que isso não é vida pra ninguém, o desejo de morrer é constante, a busca por alguém que nos dê valor é imenso, mas quem dá valor a uma mulher assim, e na maioria das vezes viciada, porque sem se drogar não consegue atingir a meta. Às vezes chega até vinte programas numa mesma noite. A gente não escolhe com quem vai sair, eles é quem escolhem a gente. Somos humilhadas ao extremo. Existem meninas que passam até três dias sem dormir, a base de drogas, fazendo programas, elas nem sabem com quem ou com o quê estão saindo, mas saem. Por mais que eu me limpasse, ainda assim me sentia suja. O sofrimento é absurdo. Não existe uma luz, não existe um fim do túnel, a nossa única certeza é a morte e o desejo por ela. Mas muitas não têm coragem de se matar, nem pra isso a gente serve.

Capítulo 9 - Arma contra a morte

Mais uma noite de terror em minha vida, encontrei o monstro, ele ainda estava vivo, eu desejava matá-lo. Eu não conseguia correr, nem gritar, estava muito fraca, a droga estava consumindo o meu cérebro, seria capaz de roubar e até matar por mais uma pedra.
Encontrei um cliente, barra pesada, andava armado, ele queria o programa nessa noite, eu lhe fiz uma proposta. Dou meu corpo em troca da morte do monstro.
Trato feito. De pronto o barra pesada foi encontrar com o monstro. Dois tiros na cabeça, morta instantânea, o monstro nem viu quem o acertou. Meu corpo nessa noite era do barra pesada, fomos para o quarto alugado do bairro.
Gosto de sangue na boca, acreditava que ficaria alegre, o monstro foi para o inferno. A depressão continua, a agonia na alma, meu coração parece que vai sair pela boca. A morte dele não adiantou em nada, continuo sozinha. Vejo bichos andando na parede, ouço vozes dizendo para eu me matar… quero minha mãe…
Será que não sou tão poderosa assim, acho que quero sair dessa vida, não agüento mais, estou explodindo por dentro, preciso de crack.
***
Anne vai para o quarto da mãe, e dobra o seu joelho perto da cama.
- Meu Deus, minha professora disse que o Senhor é de verdade, e pode mudar a minha mãe, então cuida dela pra mim.
***
Traficantes do bairro vizinho vieram tomar o morro, querem matar os donos do trafico para assumirem a posição e terem mais poder e respeito. Gritos por todos os lados, bombas de gás lacrimogêneo foram lançadas dentro do quarto que eu estava.
Tiros por todos os lados, metralhadoras, granadas, m16, Ares Predator II, Ares Crusader, Heckler & Koch HK227-S, AK-97 SMG/Carabina, UZI, Steyr AUG SCL, meu Deus o mundo está se acabando. O confronto entre os traficantes  é muito grande, virou uma guerra, vamos morrer…
O barulho dos tiros penetravam em minha mente, sabia quais eram as armas porque eu ajudava a limpá-las por alguns trocados.
Estou com vertigem, não consigo respirar, muitos gritos, pedidos de socorro, sinto gosto de sangue na minha boca. Minha cabeça vai explodir, preciso do crack, preciso fugir.
O barra pesada estava do meu lado, levantou-se sacou a arma, foi atingido.
Eu nunca vi nada parecido, o inferno estava na minha frente, uma bala atingiu sua cabeça, ele havia acabado de matar o monstro com dois tiros na cabeça, e agora ele foi atingido. Ficou irreconhecível, seu corpo caiu ao meu lado.
Desespero, dor, tenho que me esconder. O único lugar seria embaixo do seu corpo morto. Três horas de confronto, não sobrou nada. Silêncio. Cheiro de pólvora, sangue e dor.  Policiais e paramédicos buscam por sobreviventes. Eu me levanto, estou coberta de sangue…sangue do morto.  Estou apavorada, bichos estão atrás de mim, e eu nem estou sob efeito do crack.
Não consigo pensar, minha cabeça está explodindo.
***
- Meu Deus cuida da minha mãe, eu confio no Senhor.
***
O que eu faço? Quero minha mãe…  porque eu não disse pra ela tudo o que estava acontecendo? Porque eu tive medo naquele dia? Alguém iria me ajudar… ela iria me ajudar… eu não quero mais ficar aqui, eu não quero mais essa vida…
Descendo as escadas vejo muitos mortos, muito sangue pela calçada. Meninas que faziam programas junto comigo estavam mortas, pedaços de corpos por todo lado…uma chacina.
Me sentei na beira de um bar, ou do que sobrou dele, coloquei meu rosto junto aos meus joelhos e chorei, chorei de medo, chorei de saudade, chorei por causa da depressão.
Uma voz dizia dentro da minha cabeça, para eu me matar. Tinha uma 12mm com três balas no pente, a voz começou a gritar na minha cabeça para eu me matar e eu peguei a arma na mão.
Eu não queria me matar, queria viver, queria ser feliz, mas como pode uma pessoa como eu ser feliz, não tem mais solução, eu fui abusada quando pequena, minha mãe morreu com câncer, meu pai de tanto beber, tenho uma “coisa” que saiu de dentro de mim e que eu odeio muito, não tenho família, não tenho ninguém. Como pode existir Deus, se Ele existisse não deixaria eu passar por tudo isso.
Fiquei com a arma na mão por alguns minutos, coçava minha cabeça com o cano dela, e tinha a sensação de bem estar toda vez que pensava em puxar o gatilho…
Comecei a ver monstros novamente vindo ao meu encontro, pareciam homens de preto ou vultos não sei. Davam medo, eram feios e o cheiro era horroroso, não era o cheiro de sangue das pessoas mortas, mas um cheiro podre, comecei a sentir calor, estava tudo muito quente. Os monstros estavam me chamando, queriam me puxar pela mão, eu estava ficando louca. O que eu faço agora? Puxo o gatilho?
Lembrei-me por um momento de quando tinha seis anos de idade, e minha mãe me levou a igreja, eu fiquei na escola dominical. A professora disse que Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho, Seu único Filho para morrer por nós. Me lembrei que nesse dia eu havia feito uma oração, para que Deus cuidasse de mim.
- Se o Senhor está aí mesmo, se existe de verdade então olha para mim agora e mostra isso, se não vou apertar o gatilho e me matar.
Nesse momento um policial apareceu. Ele gritou:
- Sobrevivente!!
Daquele tanto de gente que havia no morro, apenas três pessoas sobreviveram, eu era uma delas.
Me levaram para uma ambulância e lá me examinaram. Eu estava em estado de choque, fui levada para o hospital. Adormeci, não me lembro de mais nada.

Capítulo 10 - Ventos de Mudança

Uma semana a base de remédios, a dependência da droga me fazia debater o tempo todo, então tiveram que me amarrar.
Emagreci mais ainda, 1,70 pesando 39 kilos, pele e osso. Acordei, não sabia onde estava. Olhei para os lados, as paredes brancas, cheiro de éter, aparelhos ao meu redor, não conseguia enxergar bem, estava muito fraca, mal abria os olhos. Havia alguém ao meu lado, com perfume de alfazema, mão pequena, pele clara, segurando meu rosto com uma das mãos e com a outra trazendo para minha boca uma colher com sopinha de leite e bolacha. Era a “coisa”.
Ai, ai, o que eu faço agora? Não consigo gritar para ela sair daqui, não tenho forças nem para abrir os olhos direito, não consigo nem pensar…
Chegou à noite e o médico veio me avaliar, disse que eu estava indo bem, e em poucas semanas sairia do hospital.
Semanas? Como assim? Quero ir embora agora!!! Eu mando na minha vida…
Um coração duro, difícil de penetrar, sabe que estão pedindo a tua alma, mas não dá uma chance para ser feliz e muito menos para se salvar.
A “coisa” ficava lá, o tempo todo junto comigo. Será que ela não tem casa para ir não?
Amanheceu e eu despertei, ainda muito fraca, queria o crack, estava irritada, dependia de todos pra tudo.
Senti alguém mexendo nos meus cabelos, ou o que sobraram deles, era a “coisa” que estava me penteando. Eu queria que ela saísse dali, mas não conseguia falar nem me mexer.
- A senhora é tão linda e eu sinto tanto a sua falta. Nessa noite pedi a Deus para tirar você daqui com saúde. Naquele dia do tiroteio pedi para Ele cuidar de você e Ele cuidou, muitos morreram, mas não a minha mãe. Minha professora Clara, disse que tudo o que pedir a Deus e crer Ele fará.
Será isso verdade mesmo? Será que posso mudar de vida? Seria muito bom para ser verdade. Ah se eu tivesse falado com minha mãe… se não tivesse experimentado o álcool, se não tivesse entrado na prostituição, se não tivesse conhecido o crack,…
São tantos se não tivesse… eu acreditava que era forte, que tinha controle sob minha vida… que nada, é só olhar para mim agora e ver meu estado, numa cama de hospital, sem forças, sendo cuidada por alguém que nem tem tamanho…
Ela é tão pequena e sabe tanto, até consigo olhar para seu rosto nesse momento sem ter vontade de matá-la ou de desprezá-la. Deve ser porque é a única que está comigo nesse momento…
Minha tia  me visitava e trazia frutas, mas eu não me lembro pois sempre estava sob efeito de calmantes.
Os dias foram passando e fui me recuperando, dia após dia, um atrás do outro, com remédios e uma luta constante por abstinência a droga.
Desejo ardentemente mudar de vida, mas meu corpo treme, minha mente às vezes trava, tenho dores de cabeça.
Chegou o dia de ir para casa, ou o que era a minha casa, porque fiquei tanto tempo nas ruas que meu lar se tornou os becos, os lixos, as calçadas, a praia… Onde havia usuário de drogas, ali eu estava, não importava o local, mas importava onde tinha um ponto de venda. Eu fazia os programas e com aquele dinheiro na mesma hora gastava tudo em crack…
Cheguei ao ponto de não escovar meus dentes, perdi quatro deles…
Meu cabelo era embaraçado, metade preto, metade loiro, os cachos não existiam mais, eram quebrados e sem nenhuma vida.
Minha pele estava amarelada, meus pés rachados, minhas unhas escuras e podres.
Eu me sentia o lixo, o nada, queria morrer, queria minha mãe…
Ao entrar naquela casa, voltei a minha infância, no dia em que entrei pela primeira vez naquele quarto preparado para mim, das vezes que fazia leite morno para tomar ou até do meu macarrão sem molho, (risos) até o macarrão sem molho era bom.
Minha tia veio me encontrar, já não estava mais embriagada, seu olhar era outro, não tinha cheiro de uísque, cheirava perfume. A casa estava limpa e um cheirinho de sopa vinha da cozinha. Ela segurou minha mão e me disse:
- Minha querida, seu quarto te espera.
Achei tudo tão estranho. Como pode alguém mudar de uma hora para outra. Ela sempre foi alcoólatra, não limpava a casa nem comida fazia, agora está me chamando de querida e fazendo sopa? Será que ela ficou louca?
A menina preparou-me um banho, com sais de alfazema. Eu amo o perfume de alfazema. Minha roupa estava em cima da cama, roupa limpa e cheirosa.
Limparam as minhas unhas, cortaram e pentearam meus cabelos. Sentei-me à mesa para tomar a sopa.
Tudo estava diferente, eu não entendia nada. Naquela casa havia paz. Havia um perfume de amor no ar…eu não entendia. Minha cabeça doía, meu corpo ainda estava fraco. Nenhuma palavra saía da minha boca, tinha medo de falar, tinha medo muito medo.
A menina dormiu do meu lado. Eu olhava para ela e via uma menina e não mais como uma “coisa”, ela era tão carinhosa comigo, mas eu mesma não entendia o porquê meu ódio por ela ainda existia . Mesmo assim não dirigi nenhuma palavra a ela.
Noite difícil, sentia falta da droga. A abstinência faz nosso corpo entrar em transe, parece que não vai ter fim. Eu queria muito sair dessa vida, mas sozinha seria impossível.
Vontade de chorar, não conseguia dormir, meu corpo tremia muito. Algo me dizia para me matar, dizia que eu não iria conseguir, pra mim não tinha jeito…
Quero ajuda, preciso de ajuda, vontade de gritar, muito choro. Me levantei e fui para o banheiro, horas lá dentro chorando muito.
A menina se levantou e ficou ao meu lado, me deu um abraço. Fiquei parada sem saber o que fazer, entrei em pânico.

Capítulo 11 - Escolhas

Os dias foram passando e minha tia e a menina freqüentavam uma igreja. Então era por isso que elas eram diferentes. Parecia que não tinham medo, eram confiantes. Confiantes em quê ou em quem? Também quero essa confiança.
Preciso de drogas, preciso de ajuda…ao mesmo tempo que quero sair e mudar de vida, não tenho forças…
Uma grande confusão em minha cabeça!!
Não consigo ficar na luz, estou com sensibilidade nos olhos, meu corpo dói tanto que parece que não vou suportar a dor, tenho febre, sinto muito enjôo, é a falta das drogas, é assim que alguém em abstinência sente.
Não agüento mais, não vou conseguir…
***
Em uma tarde elas chegaram em casa e eu estava tendo uma crise, quebrei o quarto todo, não sobrou nada, pensei que elas iriam gritar comigo, acabar com minha vida, me expulsar de lá, me internar ou coisa assim. Fui para um terreno onde havia restos de uma construção, fiquei por algum momento sem saber o que fazer… pensava em voltar para as drogas, mas ao mesmo tempo queria uma mudança… voltei para casa…
- Tem um modo de você mudar de vida. É somente você querer. Disse minha tia.
Abri minha boca pela primeira vez depois de tanto tempo.
- Como? Estou morrendo! Não agüento mais, e vocês ficam aí paradas acreditando em quê?
- Acreditando que Deus pode mudar sua situação.
- Se Ele existisse mesmo não me deixaria passar por tudo isso!
- Não foi Deus que deu drogas para você usar, foi você que a aceitou. Não foi Deus que a colocou na prostituição, foi você  quem ia todos os dias em busca de clientes. Não foi Deus quem te levou naquele dia para o meio daquela chacina. Mas foi Deus que livrou da morte naquele mesmo dia, foi Deus que impediu que você morresse naqueles programas, foi Deus que não deixou você morrer com overdose, e agora Deus lhe dá uma oportunidade de mudar de vida assim como eu mudei. A escolha é sua.
Não tive palavras, mas consegui pensar um pouco no que havia ouvido. Meus neurônios não estavam funcionando muito bem por causa da falta das drogas, mas minha vontade de voltar a ser gente e deixar de ser “lixo” era tão grande que consegui ser convencida por aquelas palavras.
Resolvi fazer um teste, seria o último. Se esse Deus não mudasse a minha vida, eu iria me matar, por que não conseguia mais viver daquela forma.
***
Um mês se passou. Dias e noites com fortes dores no corpo, em minha mente a cada segundo o desejo pela droga. Os enjôos eram constantes. Já não tinha mais vontade de morrer, e sim de viver, de mudar de vida, mas quão difícil estava sendo.
Eu ouvia palavras de fé, que Deus mudaria minha vida, mas em troca deveria dar a minha vida à Ele. Tive que arrancar de dentro de mim qualquer vontade do coração…
***
Consegui um emprego. O que eu ganhava no mês  não chegava aos pés do que eu tirava num dia de programa. Mas havia uma diferença, o dinheiro rendia, eu não sei como…
Comecei a me arrumar, deixei meu cabelo crescer, meu cabelo loiro e com cachos.
Não usava mais aquelas roupas apertadas que pareciam que iam rasgar no meu corpo, minha maquiagem não era mais escura e sim suave. Meu sorriso estava voltando, às vezes ainda pensava nas drogas, mas meu desejo por sair delas era tão grande que todo dia eu pedia ajuda de Deus.
Meu corpo estava parando de tremer, as náuseas haviam sumido, não fui mais nos pontos de drogas, eu queria muito mudar, para isso eu tive que negar meus desejos e me sacrificar.
Fui mudando aos poucos, com muita luta, e perseverando na minha fé.
Havia um grande problema em minha vida, maior até que o crack… era o ódio. Ódio pela menina, que agora já não era mais a “coisa” e sim menina. Eu não conseguia falar o seu nome, era algo que estava dentro de mim, não conseguia tirar.

Capítulo 12 - Recompensa

Outros meses se passaram. Eu continuei firme e forte no meu propósito de mudar de vida. Fui à igreja e percebi que o olhar de minha tia e da menina, eram diferentes. Parecia que saía uma luz. Eu queria aquela luz. Eu queria aquela confiança. Queria conhecer aquela alegria que não tinha fim. Mesmo tendo problemas elas eram alegres, e eu …eu não era alegre, estava me libertando das drogas, tinha um lar bonito, era até amada, mas não tinha aquela alegria que vem da alma.
Ouvi uma palavra na igreja:
E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores;
Como posso perdoar alguem que me fez tanto mal? Acho que isso é injustiça! Não posso perdoar essa menina, eu a odeio.
Chegando em casa a observei. Era tão carinhosa comigo e com minha tia, afinal ela não teve culpa em ter nascido…
Meu coração estava mudando, mas será que eu queria perdoá-la. Bem, eu não sei como fazer isso…
Hora do jantar. Como sempre os  três pratos colocados junto ao jogo americano vermelho. Os talheres bem posicionados e uma saborosa comida. A menina fez suco natural de limão, eu amo suco de limão com bastante gelo, muito gelo. E assim ela me serviu. Suco de limão com muitas pedras de gelo.
Pela primeira vez olhei para ela e disse:
- Porque me serviu? Porque sempre me serve?  Eu não falo com você, nunca falei.
- Não precisa falar comigo mamãe, eu te amo sempre, te amo de graça, porque é minha mãe.
A comida parou em minha garganta, saí da mesa e fui para meu quarto. Tranquei a porta, não queria falar com ninguém. Será que é tão difícil assim perdoar? Não sei o que fazer. Não sei como agir.
Ouvi como uma voz suave  a me dizer. Quer ser perdoada por tudo que fez, quer ter uma nova vida, então deve fazer o mesmo.
Sequei minhas lágrimas e saí do quarto. As duas estavam jantando como se nada tivesse acontecido. Será que nada abala essas duas? O mundo cai na cabeça delas e a confiança continua? Muito bem se eu quero ser assim também, devo sacrificar o meu eu. Vamos lá, é agora.
Sentei-me à mesa, peguei o meu prato,coloquei a comida que estava com um cheiro ótimo e disse:
- Anne minha querida passe o sal.
Parece que quando eu falei o nome dela o ódio sumiu do meu coração, havia algo que não me deixava perdoar, algo que até então parecia mais forte do que eu.
Anne passou o sal para mim, mas antes se levantou e me deu um beijo.
- Esse foi o meu pedido a Deus. Que a senhora me amasse. E vejo em seus olhos o seu amor por mim.
Não pude perder a oportunidade e pela primeira vez dei um abraço muito apertado nela. As lágrimas desceram de seus olhos, Anne chorava compulsivamente. Correu e pulou pela sala gritando:
-       Deus me ouviu, minha mãe me ama! Minha mãe me ama!
Anne foi para o quarto e pegou a sua pequena Bíblia. Me mostrou a passagem em Isaías 14:24
“O SENHOR DOS EXÉRCITOS jurou, dizendo: Como pensei, assim sucederá, e como determinei, assim se efetuará.
-  Mãe, a senhora está vendo que essa página está suja? É de tanto eu dobrar os meus joelhos e chorar em cima dela. Todos os dias eu cobrava de Deus o cumprimento dela em minha vida… e hoje se cumpriu… ( choro e risos )
Após o jantar, eu levei minha filha para um passeio no lago.

Capítulo 13 (Final) - Ressurreição

Um ano se passou e digo que minha vida mudou, não foi fácil, tive recaídas, vontade de desistir, mas meu desejo de mudar era mais forte. Mesmo quando desejava morrer queria viver, quando a vontade pela droga era grande, meu desejo de não usá-la era maior. Sozinha jamais conseguiria… hoje sei o que é ser feliz e o que é confiar em Deus.
Estou casada e feliz. Meu casamento foi lindo. Anne me ajudou a escolher a decoração. Foi em um sitio. O tio do meu esposo nos deu o local como presente de casamento. Foi colocado um tapete verde em direção ao altar. Não quis que ninguém me conduzisse, fui levada pelo próprio Deus. No corredor arranjos de flores amarelas e brancas. Cetim branco foi usado na decoração. Tudo ficou muito lindo. A paisagem ajudou muito, todos os lados tinha árvores frutíferas e plantas com flores lindas. Me casei pela manhã. Fizemos um grande almoço. A mesa era enorme. Toalhas brancas com louça branca, talheres de prata, taças, para cada quatro convidados um arranjo floral. Anne teve a ideia de colocar rosas na mesa, assim que a música começasse o cavaleiro tiraria a dama para dançar dando-lhe a flor amarela, realmente ficou muito romântico. Meu marido me deu a rosa e me disse que junto com ela estava me dando todo o seu amor. Eu era a  mulher da sua vida…O perfume das flores era exalado…jamais imaginei isso… tinha tanta gente… pessoas que me amavam de verdade. Por um momento me lembrei das noites dormidas na rua, das vezes que acordei em uma lata de lixo. Me lembrei da minha mãe… ( choro). Fui até o quarto da casa e ali chorei muito. Não chorei de tristeza mas de alegria. Eu estava rodeada de pessoas amigas, pessoas que de fato e verdade me aceitavam como família, como gente, tudo o que eu não era e não tinha antigamente.
Tiramos muitas fotos. Fiz questão que Anne saísse em quase todas…minha querida Anne. Uma menina que sofreu tanto, mas a sua fé me libertou do inferno.
Anne minha querida filha terá uma irmãzinha para brincar. Ela está linda, uma moça de 13 anos, simplesmente linda, carinhosa e agora é minha querida filha. Eu amo a Deus, amo meu Senhor, amo as pessoas e amo Anne. Hoje estou salva…
Fim


Fonte: Arquivo Blog Cristiane Cardoso - Via Tumblr (mulhersabia.tumblr.com). Edição e Adaptação: Viviane Lima

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